Publicação: dez./2022.
Bem-vindo(a) ao blog da Dra. Érica, sua médica alergista e imunologista de confiança!
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Introdução
Oi, pessoal! Com o objetivo de trazer conteúdo de Alergia e Imunologia para vocês, abordarei, neste texto, a doença alérgica mais prevalente: a rinite, que atinge 30% da população. Acomete pessoas de todas as idades: crianças, adolescentes, adultos e idosos. Rinite é a inflamação da mucosa nasal, o revestimento interno do nariz. Quando a causa dessa inflamação é o contato com substâncias pelas quais o paciente tem alergia, denominamos de rinite alérgica. Os alérgenos mais comuns são: os ácaros da poeira domiciliar, o epitélio de animais (principalmente cães e gatos), fungos e pólen. A título de informação, há também outros tipos de rinite como: gustatória, medicamentosa, infecciosa (que é bem comum e está presente nos quadros de resfriados e gripes) etc.
A rinite manifesta-se com os seguintes sintomas: coriza transparente (nariz escorrendo), espirros repetidos (um seguido do outro), coceira nasal e nariz entupido! Pode ou não estar associada a sintomas oculares: lacrimejamento, vermelhidão e coceira nos olhos. Ouvidos e garganta também podem coçar. E o paladar e o olfato podem ficar alterados.
É uma doença que interfere muito na qualidade de vida, pois as atividades do dia-a-dia, o aprendizado, o rendimento no trabalho e o sono ficam comprometidos. Por isso, é tão importante o controle adequado da rinite alérgica.
A abordagem dessa doença pelo alergista envolve, basicamente, 4 etapas: tratamento da crise, controle ambiental, prevenção medicamentosa e imunoterapia, conhecida como vacina para alergia. Agora, vou esmiuçar cada uma dessas etapas.
Tratamento da crise
A crise de rinite acontece quando o paciente entra em contato com o alérgeno, que é a substância causadora da alergia. Caracteriza-se pela exacerbação da doença com o aparecimento dos seguintes sintomas: coriza, espirros, coceira nasal e nariz entupido. Esses sintomas atrapalham muito o dia-a-dia do paciente que sofre com rinite, pois causam desconforto e interferem nas suas atividades habituais inclusive no seu sono.
Para “apagar esse incêndio” da crise alérgica, normalmente, o médico recorre aos antialérgicos, medicamentos de uso oral que o paciente vai utilizar por um período curto de tempo, alguns dias ou semanas. É importante citar que, hoje em dia, existem os antialérgicos mais modernos, de segunda geração, que apresentam menos efeitos colaterais que aqueles usados antigamente, os de primeira geração, que causam sedação, sonolência, aumento de apetite.
O tratamento da crise alérgica resolve o problema? Não, de jeito nenhum, pois não age na causa da alergia. Tratar a crise é aliviar o incômodo dessa fase, que é grande, mas, para realizar um tratamento que aborde a raiz do problema, serão necessárias as próximas 3 etapas.
Controlar sua rinite é muito importante, pois uma mucosa nasal constantemente inflamada pode levar a complicações como sinusite, otite e asma.
Controle ambiental
Quando o paciente passa em consulta, o médico fará o exame físico (inclusive a rinoscopia, que é o exame da parte interna do nariz) e a anamnese para interrogar sobre sua doença. Nessa conversa, muitas vezes, o paciente já dá pistas importantes sobre os gatilhos que estão associados aos seus sintomas de rinite. Por exemplo, ele diz “meu gato se aproxima e eu começo a espirrar sem parar” ou “eu percebo que, sempre que alguém está varrendo a casa, os espirros e a coceira no nariz aparecem”!
Então, para identificar exatamente quais são os alérgenos causadores da rinite, o médico vai recorrer a exames complementares, como o exame de sangue ou o Prick Test (um teste que é feito na face anterior do antebraço do paciente).
Feito o diagnóstico exato das substâncias às quais o paciente é sensibilizado, orienta-se sobre quais medidas tomar a fim de evitar o contato com elas. Por exemplo, se o paciente tem alergia aos ácaros, que são aqueles bichinhos microscópicos encontrados na poeira domiciliar, não está indicado utilizar vassoura para fazer a limpeza da casa, mas sim dar preferência pelo uso de pano úmido e aspirador de pó. Outra dica importante para esses casos é colocar capas antiácaros nos travesseiros e no colchão e assim por diante… Tudo isso para evitar a exposição às substâncias que causam alergia, que acontece, principalmente, em casa e no trabalho.
Entenderam como o controle ambiental é importante para prevenir novas crises de rinite?
Prevenção medicamentosa
A terceira etapa da abordagem da rinite alérgica pelo especialista é a prevenção medicamentosa, que consiste no uso, por um tempo mais prolongado, geralmente alguns meses, de uma medicação tópica, ou seja, aplicada diretamente no local da doença, que é a mucosa nasal. São os sprays nasais com corticóide. Eles tem quase nenhum efeito adverso e agem na inflamação presente na mucosa do paciente com rinite. Exemplos desses medicamentos intranasais são: mometasona, fluticasona, budesonida.
Aqui, eu gostaria de fazer um alerta: esses sprays não são aquelas gotinhas de descongestionante nasal que muitas pessoas usam habitualmente. Esses descongestionantes, que não são indicados mas são utilizados de forma abusiva devido ao baixo preço, acesso fácil nas farmácias e sensação de alívio instantâneo que promovem podem levar ao mau funcionamento da mucosa nasal e ao que chamamos de “efeito rebote”, com piora da obstrução e necessidade do uso cada vez mais frequente dessa medicação para se alcançar alguma melhora, ou seja, é causa de um verdadeiro vício. Também vale citar que esse tipo de medicação tem efeitos colaterais cardiovasculares como taquicardia e aumento da pressão arterial.
Viram só como é importante ter um especialista ao seu lado para orientar um tratamento eficaz e seguro?
Nessa etapa do tratamento, vale a pena citar também a lavagem nasal com soro fisiológico como importante aliada para uma melhor respiração. E, em alguns casos específicos, pode-se optar por uma medicação anti-inflamatória de uso oral chamada montelucaste.
Enfim, o médico especialista saberá analisar qual a melhor opção para cada paciente.
Imunoterapia
Encerrando nossa jornada pelas etapas do tratamento da rinite alérgica, vamos falar agora sobre imunoterapia, que é conhecida como vacina para alergia.
Esse tratamento consiste na aplicação de doses crescentes do alérgeno (substância que foi comprovada pelos exames como desencadeadora dos sintomas de rinite). É feito por via sublingual (através de gotas na boca) ou via subcutânea (pequenas injeções no braço do paciente).
É um tratamento mais prolongado, deve ser realizado por alguns anos, e recorre-se a ele quando as etapas anteriores de tratamento falharam ou quando é impossível evitar o contato com o alérgeno (por exemplo: um paciente que é alérgico ao seu gato e não quer se desfazer do animal).
O objetivo da imunoterapia é induzir tolerância aos alérgenos, ou seja, é o único meio de mudar o curso natural da doença alérgica fazendo com que o organismo não responda mais com sintomas quando entrar em contato com os alérgenos. É um tratamento muito eficaz, realizado há mais de um século. Sua eficácia é comprovada por muitos estudos científicos. Proporciona uma melhora que persiste por anos após a suspensão do tratamento e pode até levar à cura da doença. Também é utilizado para tratamento de outras doenças alérgicas como asma, conjuntivite, dermatite atópica e alergia a ferroada de insetos (abelha, vespa e formiga).
Pronto! Encerramos nossa trajetória pela rinite alérgica e suas etapas de tratamento!
Como diz o ditado, a rinite “não mata, mas maltrata”! Ela compromete a qualidade de vida e pode levar a complicações se não for tratada! Fica o alerta: trate sua rinite! Procure um especialista para avaliar o seu caso, pois cada pessoa é única e deve ser investigada de modo particular.
Lembre-se: “Alergia controlada é qualidade de vida!”